quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Diário de uma LOIRA na auto escola

5 de Janeiro

Passei no exame de direção! Posso agora dirigir o meu próprio carro, sem ter que ouvir as recomendações dos instrutores, sempre dizendo: 'por aí é sentido proibido!', 'vamos sair da contramão!', 'olha a velhinha!', 'freia! Freia!' e outras coisas do gênero. Nem sei como agüentei estes últimos dois anos e meio...

8 de Janeiro

A Auto-Escola fez uma festa de despedida para mim! Fiquei muito emocionada! Os instrutores nem sequer deram aulas! Um deles disse que ia à missa... Juro que vi outro com lágrimas nos olhos e todos disseram que iam embebedar-se para comemorar. Achei simpática a despedida, mas penso que a minha carteira não merecia tal exagero. Eles foram muito generosos! Umas gracinhas mesmo!

12 de Janeiro

Comprei meu carro e, infelizmente, tive que deixá-lo na concessionária para substituir o pára-choque traseiro pois, quando tentei sair, engatei marcha a ré ao invés da primeira. Deve ser falta de prática! Também... há uma semana que não dirijo...

14 de Janeiro

Já tenho o carro. Fiquei tão feliz ao sair da concessionária que resolvi dar um passeio. Parece que muitos outros tiveram a mesma idéia, pois fui seguida por inúmeros automóveis, todos buzinando como num casamento. Para não parecer antipática, entrei na brincadeira e reduzi a velocidade de 10 para 5 km por hora. Os outros gostaram e buzinaram ainda mais. Foi muito legal...

22 de Janeiro

Os meus vizinhos são impecáveis. Colocaram posters avisando em grandes letras 'ATENÇÃO ÀS MANOBRAS' e marcaram, com tinta branca fluorescente, um lugar bem espaçoso para eu estacionar e, para minha segurança e conforto, proibiram os filhos de saírem à rua enquanto durassem as manobras. Penso que é tudo para não me perturbarem. Ainda há gente boa neste mundo...

10 de Fevereiro

Os outros motoristas têm hábitos estranhos. Além de acenarem muito, estão sempre gritando. Não escuto nada, por estar com os vidros fechados, mas parece que querem dar informações. Digo isto porque julgo ter percebido, através de leitura labial, um deles dizendo: 'Vai para casa'. Não sei como ele adivinhou para onde eu ia! Acho isso espantoso. De qualquer modo, quando eu descobrir onde fica o botão que desce os vidros, vou tirar muitas dúvidas.

19 de Fevereiro

A Cidade é muito mal iluminada. Fiz hoje meu primeiro passeio noturno e tive de andar sempre com o farol alto aceso para ver direito. Todos os motoristas com quem cruzei pareciam concordar comigo, pois também ligaram o farol alto e alguns chegaram mesmo a acender outros faróis que tinham. Só não entendi a razão das buzinadas. Talvez para espantar algum bicho. Sei lá.

26 de Fevereiro

Hoje me envolveram num acidente. Entrei numa rotatória e como tinha muito carro (não quero exagerar, mas deviam ser, no mínimo, uns quatro !), não consegui sair. Fui dando voltas bem juntinho ao centro, à espera de uma oportunidade, de tal forma que acabei por ficar tonta e bati no monumento no centro da rotatória. Acho que deviam limitar a circulação nas rotatórias a um carro de cada vez.

3 de Março

Estou em maré de azar. Fui buscar o carro na oficina e, logo na saída, troquei os pés, acelerando fundo em vez de frear. Bati num carro que ia passando, amassando todo o lado direito. O motorista , por coincidência, era o inspetor que me aprovou no exame de direção. Um bom homem, sem dúvida. Insisti em dizer que a culpa era minha, mas ele educadamente, não parava de repetir para si mesmo: 'É tudo minha culpa! É tudo minha culpa! Que Deus me perdoe!'

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que: que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes.

Escrever...

"Escrevo por acrobáticas e aéreas piruetas - escrevo por profundamente querer falar. Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio." Clarice Lispector

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Encontros

Ficam combinados encontros fortuitos, fugazes, desde que sejam densos. Uma certa tensão é necessária para aumentar o tesão. Por isso, há que se poupar palavras doces. Sejamos práticos: apenas aquelas que nos falem à carne. Que o coração e a alma fiquem fora disso!

Decifrando a alma masculina

Antes que pensem se tratar de um texto de alguma mulher mal amada, aviso que o autor das dicas é homem.
Dicas para mulheres que querem entender e conservar os seus homens.
Sexo
Todo homem gosta de sexo. Muito. Se pudessem, passariam o dia trepando. Mulheres gostam de fazer amor. Homens trepam. É a herança dos macacos. Pararam de subir em árvores, mas no sexo, ainda batem no peito e descascam bananas (desculpem a metáfora grosseira!)
Preliminares
Por que os homens são afobados para transar? Por que temem que o pênis não suporte as preliminares e acabe fazendo os dois passarem vergonha? Talvez. No começo da relação, são gentis e pacientes: "Quer parar pra botar o diafragma? Tudo bem, querida". "Quer que eu beije mais suas costas? Claro, meu amor." Mas quando a intimidade chega, ele se comporta na cama como se estivesse na festa do peão de boiadeiro! Se seu parceiro um dia gritar: "Segura, peão!", não se espante.
Gozar juntinho
Não exija jamais que ele goze com você. Os homens não têm tanto controle sobre o pênis quanto aparentam ter. Aquilo ali tem uma espécie de administração própria. Recebe ordens da matriz, mas às vezes a coisa vira bagunça. Já reparou quando seu parceiro acorda com uma pequena tenda de camping armada no meio das pernas? Acredite, ele não planejou aquilo. Apenas aconteceu. Se, no meio da transa, seu parceiro fizer uma cara de quem está longe, não se chateie. Não é nada pessoal. Ele deve estar tentando lembrar a escalação da seleção tetracampeã de 1994. Os homens fazem esse tipo de coisa para controlar o orgasmo. Controlar, não, frear. Já disse que a "coisa" tem vida própria. Lembrar dos afluentes do Rio Amazonas também funciona.
O pé de mesa
Todo homem acha que tem o pênis maior do mundo. Nunca, jamais, duvide disso. E em hipótese alguma conte para ele que já esteve com alguém mais bem-dotado. Todo homem tem muito orgulho do próprio pinto. Mesmo que seja uma Bic Escrita Fina, minta. Diga: "Oh, meu Deus, que coisa enorme!" É banal, soa a vídeo pornô, mas todos levam a sério quando as mulheres dizem essas besteiras.
Mãe
Só existe uma inimiga maior que a secretária bonita: a mãe dele. Poderia chamar de sogra, mas estaria excluindo as solteiras. Para os homens, a mãe é sagrada. Pode ser uma jararaca, mas ele vai sempre se referir a ela como se fosse um clone da Virgem Maria. Lembra quando você a conheceu, o primeiro encontro? Você não teve a sensação de que ela estava te tratando como uma ladra de filhos? Mas depois as coisas se acalmaram, não foi? Ingenuidade sua. A jararaca só está esperando o momento pra dar o próximo bote.
A família dele
Família é foda. Principalmente a dele. Não existe nada pior do que almoço na casa da sogra. Quando estiver voltando pra casa, mesmo que ele reclame de todo mundo, não tenha poupado nem o cachorro, jamais faça qualquer crítica à família dele. Ele pode sair da casa da mãe querendo esganar um irmão ou esfolar a própria, mas não caia nessa armadilha. Fuja da tentação de fuzilar os parentes dele. São uns animais. Merecem isso, mas esqueça! Faça comentários banais sobre a sobremesa ou diga algumas besteiras. Se quiser falar mal de alguém, ataque um cunhado que estava lá também. Cunhado não é parente.
Unha do pé
Por que os homens não cortam a unha do pé? Porque são porcos. Todo homem é porco. Pelo menos do calcanhar para baixo. Alguns, mais grotescos, usam o trânsito parado para tirar meleca. Pode estar num carro maravilhoso, bem-vestido, bonitão, mas o dedo está lá, prospectando meleca!
Careca
Homens não ficam carecas. Nunca diga que seu homem está ficando careca. Homens detestam ficar carecas. Se alguém comentar a queda descontrolada de cabelos do seu marido, defenda-o. Diga que ele não é careca, a testa dele é que é grande!
Conclusão
Não chegamos a nenhuma. Ninguém vai conseguir decifrar os mistérios da alma masculina. Mas esperamos ter ajudado um pouco na compreensão desse ser rude e boçal chamado "homem".
Um último conselho: não diga para seu marido ou namorado que você passou a entendê-lo melhor depois que leu nossa pesquisa. Todo homem é ciumento. Os que dizem que não são, além de ciumentos, são mentirosos. Homem nenhum gosta que a mulher descubra alguma coisa com outro homem.
Original escrito por Claudio Paiva que é jornalista, desenhista e escritor.

O amor não é...


"O amor não é algo que o faz sair do chão e o transporta para lugares que você nunca viu. O nome disso é avião. O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que você esconde dentro de si e não mostra para ninguém. Isso se chama vibrador tailandês de três velocidades. O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que te faz perder a respiração e a fala. O nome disso e bronquite asmática. O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que chega de repente e o transforma em refém. Isso se chama seqüestrador. O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que voa alto no céu e deixa sua marca por onde passa. Isso se chama pombo com caganeira. O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que você pode prender ou botar pra fora de casa quando bem entender. Isso se chama cachorro. O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que lançou uma luz sobre ti e o levou pra ver as estrelas. Isso se chama alienígena. O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que desapareceu e que, se encontrado, poderia mudar o que está diante de você. Isso se chama controle remoto da TV. O amor é outra coisa.
O que é o amor? Ora, o amor é simplesmente o amor... Será que tudo tem que ter uma explicação?"

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Santa ignorância!


terça-feira, 16 de setembro de 2008

Mulher

Onze pessoas estavam penduradas numa corda num helicóptero. Dessas onze, dez eram homens e apenas uma era mulher. Como a corda não era forte o suficiente para segurar todos, decidiram que um deles teria que se soltar. Eles não conseguiram decidir quem, até que, finalmente, a mulher disse que se soltaria da corda, pois as mulheres estão acostumadas a largar tudo pelos seus filhos e marido, estão acostumadas a dar tudo aos homens sem receber nada em troca e que os homens, como a criação primeira de Deus, mereceriam sobreviver, pois eram também mais fortes, mais sábios e capazes de grandes façanhas. Quando ela terminou de falar, todos os homens começaram a bater palmas. Moral da história: Nunca subestime o poder e a inteligência de uma mulher!

domingo, 14 de setembro de 2008

Casal de velhinhos

Um casal de velhinhos entra no Mc Donald's e pede um hambúrguer, uma porção de batata frita, uma coca-cola e um copo extra. Sentam-se e o velhinho divide o hambúrguer exatamente no meio, divide as batatas uma por uma e, depois, divide a coca-cola entre os dois copos. O velhinho começa a comer a sua metade do lanche enquanto a velhinha fica olhando. Um funcionário que assistiu a cena se comove e oferece ao casal um lanche a mais, pago do seu bolso, para que eles não tenham que repartir um lanchinho tão pequeno. O velhinho agradece mas explica com voz trêmula: - Estamos casados há mais de 50 anos e a vida toda sempre dividimos tudo meio a meio. Obrigado pela sua gentileza, de qualquer forma. O funcionário então pergunta à velhinha se ela não vai comer a sua metade e ela responde: - Daqui a pouco, meu filho. Tô esperando a dentadura.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Uma questão de pontuação!

Um homem rico estava muito mal, agonizando. Pediu papel e caneta e escreveu assim:
'Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres'
Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava a fortuna?

Eram quatro concorrentes.

1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.
2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:
Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.

Moral da história:
'A vida pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que fazemos sua pontuação. E isso faz toda a diferença!'

Homossexualismo por Arnaldo Jabor

"Antigamente o homossexualismo era proibido no Brasil. Depois passou a ser toleado. Hoje é aceito como coisa normal. Eu vou-me embora antes que passe a ser obrigatório". Arnaldo Jabor.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Assistente Social x Garota de programa

Não sou de assistir novela, mas o burburinho já ganhou tanta expressão que até eu, que estou a mais de um mês trancada em casa, já fiquei sabendo! Na novela da Record Chamas da Vida há uma personagem que concilia sua função de Assistente Social em um abrigo para menores infratores com a de garota de programa.
Não sei por que essa questão vem mobilizando a categoria de tal forma. Fala-se em monção de desagravo, que o sindicato se posicione a respeito, que o comportamento da tal personagem pode fazer com que o senso comum associe a imagem de assistente social à prostituição, como acontecia a bem pouco tempo com as enfermeiras. Aliás, a título de informações, o COREn- RJ impetrou uma Ação contra uma rede de TV que exibiu uma "enfermeira em cenas eróticas". A Vara Federal do Rio reconheceu a matéria como título a liberdade de expressão e não deu ganho de causa ao impetrante.
Sinceramente, não entendo o motivo pelo qual a categoria profissional ficou tão ofendida. Se essa revolta toda for por conta de uma atuação distorcida da profissão, como, por exemplo, o fato de a profissional ter levado um dos menores para sua casa, tudo bem, mas pelo fato de ela ser garota de programa, e daí?
Devemos sim fazer zelar pela nossa PROFISSÃO. Devemos lutar contra o assistencialismo, contra as péssimas condições de trabalho a que somos submetidas, contra os baixos salários que somos sujeitadas a aceitar, contra a carga horária de 40 horas semanais que temos que cumprir, contra as intervenções de outras categorias em nosso fazer profissional e contra muitas outras coisas que perpassam o nosso dia a dia enquanto profissional.
Como as novelas retratam nosso cotidiano, logo, são formadoras de opinião, não ficarei nada chocada se começarem a associar o serviço social à putaria, denegrindo ainda mais nossa imagem profissional. Existem coisas que me chocam muito mais e, em muitas delas, a categoria não se mobiliza de tal forma.
Com os baixos salários que nos são pagos, daqui a uns dias estaremos todas nós trabalhando como profissional do sexo para complementarmos nossa renda. Você duvida disso? Eu não. Quem sabe a associação assistente social - garota de programa até faça algum sentido: estarmos acostumadas a sermos fodidas!

Tudo o que hoje preciso realmente saber, aprendi no jandim de infância

Tudo o que hoje preciso realmente saber, sobre como viver, o que fazer e como ser, eu aprendi no jardim de infância. A sabedoria não se encontrava no topo de um curso de pós-graduação, mas no montinho de areia da escola de todo dia.
Estas são as coisas que aprendi lá:
1. Compartilhe tudo.
2. Jogue dentro das regras.
3. Não bata nos outros.
4. Coloque as coisas de volta onde pegou.
5. Arrume a sua bagunça.
6. Não pegue as coisas dos outros.
7. Peça desculpas quando machucar alguém.
8. Lave as mãos antes de comer e reze antes de deitar.
9. Dê descarga.
10. Biscoitos quentinhos e leite fazem bem para você.
11. Respeite o outro.
12. Leve uma vida equilibrada: aprenda um pouco, pense um pouco... e desenhe.. e pinte... e cante... e dance... e brinque... e trabalhe um pouco todos os dias.
13. Tire uma soneca às tardes.
14. Quando sair, cuidado com os carros.
15. Dê a mão e fique junto.
16. Repare nas maravilhas da vida.
17. O peixinho dourado, o hamster, o camundongo branco e até mesmo a sementinha no copinho plástico, todos morrem... nós também.
NOTE: Pegue qualquer um desses itens, coloque-os em termos mais adultos e sofisticados e aplique-os à sua vida familiar, ao seu trabalho, ao seu governo ou ao seu mundo e verá como ele é verdadeiro, claro e firme. Pense como o mundo seria melhor se todos nós, no mundo todo, tivéssemos biscoitos e leite todos os dias por volta das três da tarde e pudéssemos nos deitar com um cobertorzinho para uma soneca. Ou se todos os governos tivessem como regra básica devolver as coisas ao lugar em que elas se encontravam e arrumassem a bagunça ao sair.Estas são verdades, não importa a idade.Ao sair para o mundo é sempre melhor darmos as mãos e ficarmos juntos.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Uma questão de prioridade

Uma senhora bem idosa estava no convés de um navio de cruzeiro segurando seu chapéu firmemente com as duas mãos para não ser levado pelo vento.

Um cavalheiro se aproxima e diz:
- Me perdoe, senhora...não pretendo incomodar, mas a senhora já notou que o vento está levantando bem alto o seu vestido?

- Já, sim, mas é que eu preciso de ambas as mãos para segurar o chapéu.

- Mas, senhora.... a senhora deve saber que suas partes íntimas estão sendo expostas! - disse o cavalheiro.

A senhora olhou para baixo, depois para cima e respondeu:

- Cavalheiro, qualquer coisa que o Sr. esteja vendo aqui em baixo tem 85 anos.
O chapéu eu comprei ontem.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Hoje fiquem com um texto de Clarice, que como sempre, fala por mim...

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E, a saber, que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias de água potável. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente se senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana. E se com a pessoa que a gente ama, à noite ou no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não ralar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta e se gasta de tanto se acostumar e se perde em si mesma.”

Clarice Lispector